sexta-feira, 15 de junho de 2012

   A Europa no caminho da auto-destruição - Mais uma vez...

   Todos temos acompanhado e acima de tudo, sentido as consequências, da chamada Crise da Dívida Soberana, que afecta todos os países do Sul da Europa, com graus diferentes de dramatismo e de desumanidade, sendo o exemplo da Grécia o mais grave, em termos políticos, económicos e sociais.
   Não obstante, Portugal seguir-se-á e só a insensatez e insensibilidade dos actuais responsáveis políticos não parece ver o óbvio: depois deste “resgate” virá outro, com mais medidas de austeridade adicionais e mais perda de soberania, que implicará uma recessão ainda maior, destruindo o pouco que ainda resta da economia portuguesa, num ciclo vicioso sem fim.
   Todos sabemos que os planos de austeridade, consequência das “ajudas” da União Europeia e do FMI não estão a resultar, pois provocam ainda mais recessão, que por si provoca menos receita e ainda mais défice e mais dívida pública.
   E mais défice e mais dívida obrigam a novos empréstimos e a mais austeridade ainda, numa espiral de destruição económica e social que só poderá ser interrompida com o fim dessa mesma austeridade.
   Teimosamente, nem as instituições internacionais, nem os Governos europeus parecem entender isto. A não ser que sirvam outros interesses que não os dos povos que os elegeram.
   Depois dos “resgates” concedidos à Grécia, Irlanda e Portugal, não ocorreria que uma economia com as dimensões da espanhola fosse deixada aos apetites insaciáveis dos usurários, com todas as consequências terríveis que isso implica para a economia europeia.
   Sempre se pensou que as regras de financiamento dos Estados e dos próprios bancos, seriam mudadas a meio do jogo, para evitar que países como a Espanha, a Itália e até a França tivessem que ser “resgatados”, pois as consequências disso seriam incomportáveis para a existência de uma moeda única e até para a continuidade do projecto da União Europeia.
   Puro engano!
   A Espanha já pediu um “resgate” que ainda não é “resgate” mas que sê-lo-á muito em breve. Em breve países como Chipre e Itália farão o mesmo.
   Partindo do princípio que Merkel tem a noção das consequências das decisões que toma, quais são os seus objectivos?
   - Expulsar esses mesmos “povos inferiores” da moeda única, mas antes conseguir “chupá-los até ao tutano”? Veremos o que farão com a Grécia, independentemente de quem ganhe as próximas eleições.
   - Colocar em prática esse conceito tão nazi da “Punição Colectiva”, castigando povos inteiros por supostos crimes, os quais estes não cometeram, nem sequer nunca ouviram falar, para que sirva de exemplo ou de “limpeza”?
   - Manter a União Europeia e o Euro, mas sob total domínio alemão, retirando a independência aos outros países, subjugando os povos do Sul? Conseguindo, pela via económica e da dívida, aquilo que não foi conseguido pela via militar, em 1914 e em 1939.
   Qualquer um dos cenários é possível e inevitável, mas ao mesmo tempo, inaceitável e só resta a sublevação e a resistência, por todos os meios, possíveis e disponíveis, de todos os povos sujeitos à “dividocracia” imposta por Berlim, sob pena de uma irremediável perda de autonomia, de independência e de subjugação aos interesses abstractos dos mercados financeiros e da Alemanha.
   A moeda única entrou num caminho de destruição, sem regresso, direito ao abismo, sendo que uma maior integração fiscal e política só poderiam ser equacionadas caso isso não implicasse uma cedência descarada de Soberania a favor da Alemanha. Não será o caso, pois esta faz questão em liderar o processo, obviamente a favor dos seus interesses nacionais, não do interesse comum europeu. Já o fez, ainda nos anos 90, quando impôs a toda a Europa o chamado “Pacto de Estabilidade e Crescimento” e voltou a fazê-lo há poucas semanas, ao impor um “Pacto Fiscal” que é, na prática, uma usurpação de Soberania aos Estados-membros da União Monetária.
   A Europa ruma a mais uma catástrofe, sem que haja meio de voltar atrás ou de interromper o processo. Desta vez, não foram os canhões das guerras, mas sim algo muito mais silencioso, subtil e mortífero: os mercados, a especulação financeira e os abusos dos Bancos, consequência de uma desregulação das normas que balizavam a sua actividade.
   É algo que terá de ser urgentemente regulado de novo, caso não queiramos repetir os mesmos erros. Infelizmente, os Governos continuam a “assobiar para o lado”, nesta matéria, preferindo castigar os povos em vez de perseguirem os verdadeiros culpados da crise. Nomeadamente, os verdadeiros caloteiros.
   Longe vão os tempos, em que na ressaca da II Guerra Mundial, se criou a Comunidade Económica Europeia, a então CEE. O seu fim último não era a união política, mas sim o de garantir que absolutamente nunca mais voltasse a acontecer uma guerra na Europa. A união política seria um meio para se atingir esse fim.
   Não só fracassou no objectivo como também, após a reunificação de 1990, devolveu à Alemanha exactamente o mesmo protagonismo no contexto geopolítico europeu, que provocou as duas guerras mundiais.
   Ninguém aprendeu com a História e esta repete-se. Não em forma de canhões, nem de divisões Panzer, mas sim em forma de… dívida!
   Um projecto que podia ser o garante de paz e prosperidade europeias tornou-se na sua asfixia, na sua morte lenta, a sua destruição à custa do sofrimento dos povos. Não tinha que ser assim, não podia ser assim!
   Outra conclusão e é lamentável assumi-lo: uma Alemanha unida é inviável para os outros povos europeus! (o maior período de paz que a Europa teve foi precisamente quando tivemos duas Alemanhas!).
   Em menos de 100 anos, serão responsáveis pela terceira auto-destruição da Europa (1914, 1939, 2012). Só que desta vez, e atendendo ao novo contexto mundial, não se voltará a erguer.
   Para terminar: não existem dados adquiridos em História. Esta faz-se diariamente, sem que nada esteja pré-determinado, seja fatal. Muito menos existem coisas irreversíveis.
   Pensar que a União Europeia seria uma fonte de estabilidade eterna foi um erro. Assim como foi outro erro pensar que certos direitos sociais fossem adquiridos e irreversíveis: trabalho, saúde, educação, Segurança Social… são bens que não poderão ser nunca transaccionáveis mas para os quais temos que lutar diariamente, e absolutamente nunca pensar que estão ganhos e são irreversíveis. Infelizmente, a prova de que não são está aí.
   Cabe-nos a nós mudar a História, como seus agentes activos. Vamos a isso!