Neste dia da exumação do cadáver do
ditador Francisco Franco, ao abrir a janela pela manhã, bem que me veio um
fedor nauseabundo contaminador do ar, dos espíritos e das nações; o odor a prisão,
a tortura, a sofrimento, a trevas e a morte.
Veio o vírus do Fascismo, cujo
veneno corrói as liberdades e os povos, sendo que, por conseguinte, é urgente vacinar
contra ele as consciências, sob pena de destruir tudo em seu redor.
Veio-me à lembrança o cheiro dos
quinhentos mil mortos (estimativa por baixo) na Guerra Civil de Espanha,
conflito cuja inteira responsabilidade se atribui a Franco, a Hitler, a
Mussolini e a Salazar, que conspurcou o nome de Portugal, alinhando o país com
o nazismo alemão e o fascismo italiano, ao ajudar a derrubar um governo
republicano democraticamente eleito, para no seu lugar impor uma sangüinária ditadura
católico-fascista.
Também me veio o cheiro e o grito
dos trezentos e ciqüenta mil mortos da repressão franquista, vítimas do pelotão
de fuzilamento ou do infame garrote, executados barbaramente e a frio, só pelo
simples facto de pensarem de modo diferente e por lutarem contra a tirania do "caudillo",
uma das mais hediondas do século XX.
Como se não bastasse o genocídio
do seu próprio povo, por duas vezes o "generalíssimo" equacionou
invadir militarmente Portugal, tanto em 1940 como em 1975, em nome da
"unidad de España" que ainda hoje é imposta na Catalunha e que
continua sendo defendida por muitos portugueses, na senda de Miguel de
Vasconcelos.
A morte de Francisco Franco só se
lamenta por ter acontecido tardiamente e na cama, rodeado de todos os cuidados,
sem que nunca tivesse pago pelos seus crimes e sem que o seu veneno ideológico
e político fosse erradicado da Península Ibérica e do Mundo, em nome da
Democracia, da República e da liberdade dos povos.
Deveria Franco ter voado mais
alto que Carrero Blanco, pois contra a opressão e o genocídio bárbaro, todas as
formas de luta são válidas e legítimas, em nome de uma Ibéria republicana,
democrática e de povos livres, não subjugados a Castela, à Igreja ou ao
fascismo.
Que se reguem com ácido sulfúrico,
tanto o cadáver como as ideias que preconiza, para que desapareçam para sempre!