quarta-feira, 11 de novembro de 2020

A cavar no sítio errado



Parece ser intenção deliberada do Governo colocar nas famílias o ónus do previsível descontrolo da situação, quer nas urgências e UCI's hospitalares, quer nas incomportáveis conseqüências económicas de um cada vez mais inevitável novo confinamento.

Enquanto se morre de Covid, muitos imbecis insistem em não cumprir regras, seja em casamentos sem regras, a ir ver as ondas para a Nazaré, em corridas de Fórmula 1, ou em encontros de "tunning"; já para não falar nos ambientes laborais sem condições mínimas, nos transportes públicos ou nas escolas.

É falso e muito injusto que a "culpa" pelo aparente descontrolo da propagação do vírus seja das famílias e dos convívios familiares.

Parece que o Governo trata de reprimir o que não dá problemas e mantém aquilo que, de facto, é a causa da maioria dos contágios!

Assim, não vamos lá!

Tal como diz o gráfico da DGS, se a causa principal dos contágios for o natural contacto entre os membros do mesmo agregado, tornam-se totalmente inúteis as medidas anunciadas de Recolher Obrigatório.

Por que raio nos mandam ir para casa, se é lá que mais apanhamos Covid, de acordo com a própria DGS??

A não ser que o bicho entre sozinho em casa das pessoas...

Quanto muito, significa que pelo menos um dos membros do agregado foi contagiado fora do ambiente caseiro.

E se assim é, torna-se falso - para não dizer mentiroso - dizer que a causa da maioria dos contágios sejam as famílias; antes é o ambiente laboral e social onde cada indivíduo está inserido a causa primeira das novas infeções.

As inúmeras excepções previstas no Recolher Obrigatório tornam o mesmo totalmente inútil no combate à propagação da doença.

Continuamos a sair para compras, a trabalhar, a ir à escola, ao shopping, a utilizar transportes públicos e alguns de nós, até se dão ao luxo - e à irresponsabilidade - de socializar, pois a mensagem que o Governo passa é que o vírus é seletivo, que tem horas e locais marcados para atacar.

Aqui pode, ali não pode; acoli é perigoso, mas se for a certas horas, já é seguro...

Ao tentar ganhar tempo e ao agir nos locais e situações erradas, o Governo e a DGS só vão conseguir que o vírus se continue a propagar descontroladamente, com conseqüências cada vez mais dramáticas para a saúde e para a economia.

Alguns dos nossos parceiros europeus parecem já ter percebido que só um segundo confinamento, feito a sério e não a brincar, nos salvará de um incêndio de proporções bíblicas.

O problema é que esse segundo confinamento significará um incalculável preço económico e social, não tendo o Governo português coragem para o decidir.

Pior que tudo: acabará por ser forçado a decidi-lo quando os médicos começarem a escolher quem vive e quem morre, quando os jornais estiverem inundados de famílias enlutadas e indignadas por o SNS ter deixado morrer o seu ente querido (e muitos aproveitarão para colocar em causa a existência do próprio SNS por isto).

Mas aí, já será tarde para muitos; até para a própria economia.

Se é preciso fazer, que se faça, por muito doloroso que se torne.

É que ainda mais doloroso, tanto para a economia, como para a saúde, como ainda para a própria existência de todos, é o continuar deste arrastar da situação, que levará o país para um abismo no qual ficará por décadas.

quarta-feira, 8 de abril de 2020

O Dia do Austericídio Final




E hoje ficámos a saber que a Holanda se recusa a emitir “eurobonds” e exige que os países que recorram ao fundo de resgate europeu dêem garantias de austeridade fiscal.

Sim, no meio da doença e da morte eles insistem na austeridade!

Tanto em 2011 como agora, ao chegar a hora da verdade, a apregoada “solidariedade europeia” resume-se ao velhinho conceito de “cada um por si”, contrário a tudo o que a União Europeia diz ser.

A mensagem europeia é simples: “primeiro amarramos-te (pertença ao euro, limites de défice e de dívida pública) e agora, depois de amarrado, desenrasca-te sozinho com o coronavírus” – isto é, não só, não ajudam, como ainda se tornam em obstáculo à ação dos estados, como se verá.

Já sabemos que a União Europeia se está a borrifar para os mortos nos países do sul, tal como outrora se esteve a borrifar para os desempregados desses mesmos países, aquando da chamada “crise da dívida” – e não mudaram nada.

Solidariedade em troca de austeridade deixa de o ser; antes é o regresso da troika de má memória, de cujas políticas ainda não nos livrámos, mas nas quais a União Europeia ateima, mesmo depois das terríveis conseqüências que obteve no passado e das circunstâncias únicas dos dias de hoje.

Para a União Europeia não importam as pessoas, principalmente as que tiverem a pele mais morena; o que realmente conta é o défice orçamental e a dívida pública dos membros da zona euro, utilizando instrumentos de chantagem e de terrorismo económico para fazer cumprir esse objetivo, tal como na Grécia de 2015.

Tudo o resto que se lixe, que se dane, que fique no desemprego, que adoeça ou que morra; desde que as contas públicas estejam na ordem o sofrimento humano é-lhes indiferente.

No fundo, os atuais líderes europeus continuar a subscrever de forma não assumida, por saberem que lhes fica mal, insinuações de um passado recente, no sentido de se chamarem de “porcos” aos países do sul (PIIGS – Portugal, Italy, Ireland, Greece and Spain), ou de insinuar que os mesmos “gastam tudo em vinho e em mulheres”.

Países do sul a quem quiseram abrir um processo por défice excessivo (2016); mas estando a França nas mesmas condições, nada foi feito “parce que c’est la France”, nas palavras do então Presidente da Comissão Europeia, numa flagrante dualidade de critérios que feriu de morte a réstia de pretensa igualdade entre os estados, se porventura ainda existisse.

Depois de todas estas atitudes tidas ao longo dos anos, ainda existem dúvidas relativamente ao racismo, não assumido mas mal escondido, dos países do norte em relação aos povos mediterrânicos?

Não esquecer que a construção europeia se baseou em dois pilares: a livre circulação de pessoas e bens, e a união económica e monetária.

Depois do coronavírus ficámos conversados em relação à livre circulação de pessoas, morta e enterrada. Quanto à união económica e monetária, a mesma está adaptada à realidade económica alemã (exportadora), só tendo beneficiado as multinacionais dos países do norte da Europa à custa da asfixia do crescimento económico no continente, nomeadamente nas economias do sul.


Devido à paragem da maioria das atividades, é inevitável a vinda de uma crise económica muito mais severa que a de 2008.

Para sua resolução, ou se emite moeda, provocando inflação, ou se mutualiza a dívida, a fim da União Europeia enfrentar essa mesma crise económica como um só bloco, como uma só entidade.

Devido à existência do Euro é impossível a cada país, por si só, emitir moeda, ficando a restar o endividamento como o único instrumento disponível para fazer face à crise.

Se a União Europeia se recusar a enfrentar esta situação como um todo, se insistir na receita da austeridade e se não der sinais de uma verdadeira união económica e política, demonstrará a sua inutilidade histórica e perderá a sua razão de existir; é que além de não ajudar, ainda se consegue tornar numa dificuldade acrescida para que cada país resolva, por si, a situação grave em que se encontra.

Os partidos fascistas de Salvini, de Le Pen, de Abascal ou de Ventura agradecem o extremismo neoliberal que grassa na Europa, pois fará com que o poder lhes caia nas mãos, mais cedo que tarde, o que será pior a emenda que o soneto.

Ou a lógica neoliberal é erradicada de vez ou a Europa reviverá o pesadelo e os dilemas dos anos que precederam a II Guerra Mundial: ou sofrerá com um Reich alemão que durará mil anos, ou terá pequenos tiranos fascistas instalados em cada um dos estados europeus, conseqüência de cada país ter tentado debelar a crise pelos seus próprios meios, com um custo muito mais dramático para as suas populações.

A alternativa será forçosamente a Europa dos povos, humana, solidária, que centre nas pessoas – e não nos mercados – a sua razão de existir.

Ou essa Europa surge, ou o coronavírus pregará o último prego do caixão, tanto do da União Europeia, como do da liberdade e da democracia no continente, valores dos quais essa própria UE acaba por não comungar, devido à sua loucura pela austeridade orçamental, que num passado recente minou as fundações de uns regimes democráticos que não sobreviverão a outra onda de cortes igual à de 2010-13.

sexta-feira, 27 de março de 2020

Euro-suicídio: o mito da solidariedade europeia




Depois da chamada “crise da dívida”, em que os países do sul da Europa foram chamados a resgatar os bancos franceses e alemães, ficou evidente que a solidariedade europeia não passa de um mito; só existe na hora dos PIIGS (Portugal, Italy, Ireland, Greece and Spain) pagarem o preço de pertencer ao clube, sem colher o respectivo benefício.

Ao invés, os países do norte, tal como a Alemanha, a Áustria ou a Holanda, colhem o benefício sem nunca ter que pagar o preço.

Por exemplo, aquando da crise dos refugiados em 2015, Merkel quis partilhar essa responsabilidade com o resto da Europa; mas aquando da crise das dívidas soberanas, Merkel insistiu que seria cada um por si e prepara-se para fazer o mesmo na ressaca económica do coronavírus, recusando a emissão de títulos de dívida comum.

A Europa age unitariamente quando convém, mas fomenta a ação individual e o salve-se quem puder, quando também convém.

É sabido que o objectivo supremo da União Europeia não são as pessoas nem o bem-estar comum, antes é a luta contra os défices e as dívidas públicas dos países do sul, porque em relação aos do norte assobia para o lado, “parce que c’est la France”, como disse Jean-Claude Juncker.

É sabido que a União Europeia dá com uma mão para posteriormente tirar com as duas; a recente suspensão da obrigação do cumprimento do Pacto de Estabilidade (défice a 3% do PIB) será posteriormente paga com a austeridade de sempre, sobre os mesmos de sempre, a fim de poupar os beneficiários do costume – e fazê-los ganhar ainda mais dinheiro com isso, como vimos no passado recente.

Dizem-nos que os problemas globais exigem uma resposta global, sob pena de cada Estado, agindo por si só, ser ineficaz por falta de capacidade, na luta contra as ameaças e desafios de um mundo demasiado interligado.

Devido ao coronavírus e ao restabelecimento dos controlos fronteiriços por parte da maioria dos estados, o chamado espaço Schengen de livre circulação de pessoas e bens tornou-se moribundo e o prolongamento no tempo desses controlos aduaneiros poderá feri-lo de morte – se é que já não feriu.

Caso a arrogante União Europeia insistir em não querer ser a solução para os gravíssimos problemas económicos originados pela crise do coronavírus, ficará esvaziada da sua razão de existir, pois tornar-se-á evidente que, do ponto de vista dos estados do sul, não servirá para nada, a não ser para pagar um preço económico alto, em forma de eterna austeridade fiscal, sem que com isso se colha o devido benefício.

Pelo contrário, as declarações do ministro holandês das finanças provam que essa mesma união económica e monetária se tornará em mais um problema e obstáculo à recuperação das economias após a epidemia, com a previsível reposição do Pacto de Estabilidade e da sacrossanta regra do défice a 3% do PIB, o que implicará a imposição de políticas de austeridade fiscal que impedirão as economias de recuperar desta hecatombe.

Em tempos de pandemia e do drama humano que isso implica, a insistência em soluções de austeridade, que no passado recente levaram ao sofrimento de tantas pessoas, torna-se num exercício de desumanidade primária.

Depois de ainda não ter recuperado a sua credibilidade após a chamada crise da dívida, a União Europeia arrisca não sobreviver se os países do norte da Europa insistirem em não agir de uma forma solidária e unitária. Teriam essa obrigação, pois são eles que mais beneficiam da chamada união económica e monetária.

Com este suicídio coletivo que não vem de agora, a União Europeia será a única responsável pela ascensão de tudo aquilo que diz querer evitar: Salvini, Le Pen, Abascal, Geert Wilders ou Ventura, aproveitarão esta oportunidade para mergulhar o continente numa idade de trevas fascista.

domingo, 15 de março de 2020

Coronavírus - Medidas Urgentes e Necessárias



Acaso estarão à espera que tenhamos 5000 infecções para tomar medidas a sério contra o vírus?

Será que os interesses de meia-dúzia de operadores turísticos e de outros tantos capatazes ultramontanos se sobrepõem à saúde de todos nós?

Não será preferível que as medidas a tomar se antecipem à propagação da doença, ao invés de ser a doença a se antecipar às medidas do Governo, tal como tem acontecido até agora?

Para quando o Estado de Emergência?

- Recolher obrigatório, só sendo possível sair de casa para trabalhar ou para comprar medicamentos e/ou alimentação;

- Fecho de fronteiras, pois muitos dos que andam por aí a brincar com a saúde alheia são turistas, alguns deles vindos de países onde o vírus já se espalhou de forma generalizada;

- Tropa na rua, pois as pessoas insistem em não mudar o seu comportamento, continuando a viver como se nada estivesse a acontecer, só restando o uso do “hard power” para acabar com o irresponsável “lá-lá-land”;

- Que continuem intocáveis as liberdades de expressão e de opinião, a separação de poderes (executivo, legislativo e judicial) e o respeito pela Constituição e pelo Estado de Direito;

Porquê a tomada de medidas tão drásticas?

Porque mais cedo ou mais tarde, devido à propagação do vírus, essas medidas vão acabar por acontecer – aconteceram na China, em Itália e agora, em Espanha.

Então, é preferível que paremos já o país, enquanto o contágio ainda não assumiu contornos dramáticos, do que quando o mesmo for generalizado, com prejuízos ainda maiores para a saúde pública e para a economia, assunto tão caro a alguns.

Até para os interesses dos capatazes parolos é preferível o país parar já, por duas ou três semanas, que acabar por ter que parar na mesma, mas por mais tempo, arrastando a incerteza e o tempo dessa paragem; e com isso, afundar ainda mais a sacrossanta economia.

O segredo consiste em tomar medidas que estejam um passo à frente da propagação do vírus e não ir a reboque dos acontecimentos, sob pena da situação começar a assumir contornos cada vez mais difíceis de paliar, como temos assistido em Espanha e em Itália.

Quanto maior for o tempo de inacção, pior será para todos nós, em todos os campos.

Por conseguinte, exigem-se medidas drásticas e para ontem, pois o tempo está-se a esgotar!

Para bem de todos. Pela nossa saúde. Pela nossa vida.

segunda-feira, 9 de março de 2020

Coronavírus




A disseminação do coronavírus não só nos fará lamentar os mortos pela doença, como também trará conseqüências terríveis para a civilização ocidental numa ampla e preocupante variedade de aspectos.

Para começar, a desconfiança e o medo em relação a tudo o que é estrangeiro e diferente, potenciando o racismo e a xenofobia, o que será um forte trunfo dos partidos fascistas que sempre propuseram o fecho das fronteiras e o controlo férreo sobre as atividades e as deslocações da população.

Quando os governos se preparam para fazer isso mesmo, não faltarão os que disseram “eu avisei”; resta lembrar os distraídos que eles “avisaram”, não porque previssem um qualquer coronavírus a fim de proteger a população, mas antes devido ao seu ódio a tudo quanto é pele morena e pobre.

A epidemia servirá de justificação para a restrição e inclusive, a supressão de liberdades que nós tínhamos como um dado adquirido, tais como a liberdade de deslocação, do exercício de uma profissão, da expressão de uma opinião e até, do direito a ter uma vida pessoal; é que tudo se tornará susceptível de ser sujeito a escrutínio e motivo de desconfiança uns dos outros, desde um espirro ao esconder de outra coisa qualquer, numa insuportável e mentalmente doente sociedade policial – as epidemias e o pânico que provocam na população têm o poder de ser justificação para quase todos os abusos.

Mas não ficaremos por aqui, porque no final – e a maioria de nós sobreviverá – alguém terá que pagar a conta das enormes conseqüências económicas da epidemia.

E todos sabemos que não serão os banqueiros ou os grandes empresários a pagar. Que “não foram eles os culpados pelo vírus”? A restante população também não, tal como não foi responsável pela crise financeira de 2008 mas pagou-a, como também não foi culpada pela gestão danosa dos bancos e ainda hoje os resgata.

O coronavírus servirá de pretexto para aumentar ainda mais a austeridade sobre as camadas mais pobres da população, em forma de aumento de impostos sobre o trabalho (jamais sobre o capital), no desmantelamento do que resta dos serviços públicos e numa ainda maior desregulação das leis laborais e conseqüente baixa de salários, contribuindo a epidemia, desta forma, para uma ainda maior desigualdade na distribuição da riqueza, como se não bastasse a que já existe.

Por vezes, a política é feita de sorte e de azar; o coronavírus parece ter sido feito à medida dos programas dos partidos da Direita fascista e ultraliberal, o que não augura nada de bom para a política, para a economia e para as sociedades, que ao longo dos próximos anos, pagarão o coronavírus em vidas humanas, mas também em liberdades políticas e pessoais, já para não falar no preço económico cujo ónus recairá nos mesmos de sempre.

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Cleptocracia




Uma vez, alguém disse que existem várias formas do Estado se organizar. Pode ser uma Democracia, uma Ditadura; pode ser Socialista, Capitalista, etc... mas esqueceu-se da palavra que define a organização e a estrutura de certos estados: cleptocracia.

Quando o Estado angolano quase vai à falência e precisa de ajuda do FMI (2016) fica muito difícil dizer que é a saúde, a educação e as pensões de reforma que levam o dinheiro todo, sob pena de um descaramento primário.

Então, preferiram dizer que a "culpa" foi da baixa do preço do petróleo (a partir de 2014) e posteriormente, da corrupção.

Ninguém abandona o poder de livre vontade. Ponto.

Principalmente se for um autocrata, eleito de forma muito duvidosa e com uma clientela oligárquica cuja sobrevivência depende da continuidade de certo indivíduo na presidência.

Mas devido à gravidade da crise económica e financeira de 2016, Zedu deixou de ter condições políticas para se manter no poder, sendo este o verdadeiro e único motivo para a sua saída, pois a teoria do "estou velho, cansado e doente" não passa de um mito.

É que com a sua saída do poder, essa elite clientelar e cleptocrática que dele dependia, também se viu forçada a abandonar as estruturas desse mesmo poder; sendo substituída por uma outra elite com as mesmas características, sedenta de revanchismo e como é evidente, também ansiosa de pôr as mãos nos já depauperados recursos ao Estado angolano.


Em 2017 assistimos à mudança na presidência e à mudança dos protagonistas, mas sem que o regime de cleptocracia terminasse.

Não obstante, o sentimento de vingança e a necessidade de encontrar "culpados" pela crise económica de 2016, a fim de perpetuar o MPLA no poder, levou a atual elite angolana a dar caça a tudo o que "cheire" a Zedu.

Como é evidente, só com uma ingenuidade de bradar aos céus é possível acreditar que quem começa a vida vendendo ovos é capaz de construir um império empresarial somente com o seu mérito.

Ao darem entrevistas na televisão, só mostraram uma arrogância reveladora do quanto são culpadas pela depredação dos recursos que deveriam ser de todos os angolanos.

E ainda falta sabermos das relações perigosas entre essa mesma pessoa e as elites políticas e económicas portuguesas, algo que dificilmente verá a luz do dia, sob pena de explosão.

Na economia portuguesa, nos próximos meses, é de temer que tenhamos mais um banco para resgatar, fruto dessas mesmas relações perigosas entre os cleptocratas "d'aquém e d'além mar".

Atendendo a cobardia e à docilidade com que as autoridades portuguesas tratam dos assuntos angolanos, será um assunto pacífico: pagaremos e não bufaremos, com a comunicação social, alguma dela controlada por angolanos, a calar devidamente o assunto.

O problema é que, tanto em Portugal, como principalmente em Angola, os únicos que são realmente inocentes no meio disto tudo, são os que sofrem as conseqüências destes jogos de poder entre duas pseudo-elites que vivem do saque e não do tal mérito que tanto apregoam ter.

domingo, 5 de janeiro de 2020

O Preço da Loucura




Nunca Trump se descreveu a si próprio de modo tão sucinto: egoísmo, soberba, arrogância e falta de humildade de alguém que prefere sempre a força bruta à negociação, ao acordo escrito ou ao respeito.

Está a precisar de uma lição de humildade e de humanidade, que o faça ver que o mundo não lhe pertence e que não faz o que quer.

Não obstante a verborreia de taberna, é impossível não reparar no dinheiro que os Estados Unidos gastam em defesa: Dois triliões de dólares, dados a ganhar a uma indústria de armamento sedenta por uma nova guerra, para conseguir novas vendas, contratos e lucros, tudo à custa do sofrimento humano de civis inocentes.

Dois triliões de dólares… quantos problemas a Humanidade não resolveria com essa quantia? Das alterações climáticas à pobreza, passando pelo combate a variadíssimas doenças ainda sem cura.

Quanto sofrimento humano não termina? Quanta exploração laboral? Quanta fome? Quantas crianças sem escola? Quantas vítimas de doenças tratáveis?

Quanto a Humanidade não progride e evolui, só para que Trump, os Estados Unidos e a sua indústria de armamento possam continuar a lucrar?

Simplesmente pornográfico.

A fim de desviar as atenções dos Estados Unidos e do mundo em relação ao seu processo de destituição, Trump optou por uma política externa agressiva, quase que provocando deliberadamente uma guerra, algo de conseqüências que ele e o seu incompetente staff são totalmente incapazes de controlar e de medir.

A irracional escalada de tensão e de retaliações, por ambos os lados, poderá originar uma guerra devastadora, cujos intervenientes não serão somente os Estados Unidos e o Irão.

Fazer uma guerra tem o seu preço e Trump parece não ter a noção que uma guerra com o Irão fará os Estados Unidos e os seus políticos pagar um preço demasiado alto para ser admissível.

Não só um preço económico e político, mas também um preço militar, humano e até geopolítico; em resumo, o que os Estados Unidos supostamente beneficiarão numa previsível vitória é muito menos do que o preço que pagarão pela mesma, concluindo-se pelo bom senso (que não impera) que não compensa fazer a guerra.

E se Trump não tem a noção disto, não passa de um louco sem condições para ser Presidente dos Estados Unidos.

Se os Estados Unidos vencerem uma guerra contra o Irão, controlando o seu petróleo e o Estreito de Ormuz, por onde passa a maioria do petróleo mundial, ganharão uma vantagem geoestratégica decisiva sobre a Rússia e a China, criando um enorme desequilíbrio de forças entre as superpotências, algo que será considerado intolerável por russos e por chineses.

Desta forma, só restará à Rússia e à China irem até às últimas conseqüências, para impedir os norte-americanos de obter essa supremacia, existindo a possibilidade real de ambos agirem militarmente contra dos Estados Unidos da América, caso estes ataquem o Irão.

Demasiado grave.

É urgente que impere a racionalidade e o bom-senso, sob pena da eclosão de uma guerra entre as grandes potências, algo que não acontece desde o final da II Guerra Mundial, em 1945.

Guerra essa que todos perderão, nem é necessário referir o motivo.

sábado, 4 de janeiro de 2020

O mapa fascista




Atendendo ao historial de desejo anexionista do fascismo espanhol, é impossível considerar este mapa peninsular do Vox um mero lapso ou sequer falta de jeito para desenhar.

Herdeiro político de Franco, tenta o Vox concretizar o projeto de anexação de Portugal, equacionado pelo sátrapa em 1940 e em 1975, possuindo a mesma visão de nação imperial do fascismo clássico.

Não são raros os académicos espanhóis afectos a Franco, que consideram a perda de Portugal, em 1640, de um "error histórico", pois opinam que Olivares (Primeiro-Ministro do Rei Filipe IV) deveria ter priorizado sufocar a revolta em Portugal, do que reprimir a da Catalunha, como veio a acontecer.

E se forem bem "puxados" na conversa, continuam a defender a anexação de Portugal, propondo a colocação da capital em Lisboa, para nos "prender pelo cachaço" (Filipe II fez isso, logo a seguir a 1580), e o uso da bandeira do antigo Reino de Aragão (por ser a mais antiga).

Ventura ou Salazar são fascistas, mas em comparação com o extremismo exposto no parágrafo anterior, não passam de meros aprendizes de feiticeiro!

Como é público, existem políticos portugueses que não vêem no Vox um partido fascista; são os mesmos a quem lhes deveria ser aberta uma janela, para voarem no sentido inverso de Carrero Blanco, seguindo o exemplo de Vasconcelos.

É que mais grave que traírem Portugal, traem a liberdade, a democracia, a diversidade peninsular e a tolerância para com todos os povos, ibéricos e não só.

Se existe lição que a História nos dá, é que a mesma não tem factos consumados nem dados adquiridos, sendo o seu devir eterno e imprevisível.

O que hoje pode parecer algo sem sentido, amanhã poderá tornar-se uma inevitabilidade, cabendo-nos a nós zelar para que continue a ser um disparate.

Sabemos que a economia globalizada se tornou demasiado forte para que sejam necessárias invasões militares clássicas; mas também sabemos que essa mesma globalização também proporciona um mais fácil contágio das mentes com ideias de ódio, de intolerância, de racismo e de fascismo, com a sua inevitável componente nacionalista e imperialista, causadora de tanto sofrimento humano ao longo dos milénios.

Que com este mapa, o Governo português aprenda a lição e se saiba colocar do lado certo da História, sempre que trata a questão da Catalunha como um mero "assunto interno", traindo Aragão e Catalunha, os nossos aliados históricos na luta contra a hegemonia de Castela na península.

Que com este mapa, muitos que se dizem nacionalistas, mas ao mesmo tempo apregoam a “unidad de España” na questão catalã, percebam a ridícula contradição em que caem.

A libertação dos povos peninsulares não está na anexação de Portugal por Espanha, pelo contrário, isso seria o perpetuar do franquismo, do fascismo e da opressão.

A libertação de portugueses, galegos, asturianos, bascos, catalães, aragoneses, leoneses, castelhanos e andaluzes, encontra-se numa Ibéria de povos, federal, republicana e solidária, sem o Bourbon e sem partidos fascistas.