quinta-feira, 17 de abril de 2014

CACOFONIA BÉLICA

   Afirma Obama que a Rússia não está interessada num conflito militar com os Estados Unidos.
   Urge recordar que um suposto conflito militar directo, entre a Rússia e os Estados Unidos duraria meia-hora, e poucos seres humanos ficariam vivos para contar como foi, pois iriamos todos pelos ares, em sentido literal.
   Assim sendo, só resta saber quem tem mais a perder, ou quem não tem assim tanto a ganhar, caso a situação geopolítica da Ucrânia mude.
   Com o objectivo da Ucrânia gravitar na órbitra o Reich dos mil anos, a Alemanha, com a ajuda da extrema-direita local, promoveu conflitos e tumultos que levaram à queda do Presidente Yanukovich, e à instalação de um governo ilegítimo em Kiev, integrado por elementos radicais dessa mesma extrema-direita.
   Em suma, valeu tudo. Tendo sido as vistas alemãs demasiado curtas para medir o alcance da gravidade do que tinham acabado de fazer.
   Não só porque desequilibrava um Estado multiétnico, como é a Ucrânia, como era uma situação que colocava a Rússia com demasiado a perder, no xadrez europeu.
   Pior: uma organização supostamente defensora da Democracia e da tolerância estava a apoiar a tomada do poder, num Estado terceiro, por forças radicais de extrema-direita e de cariz fascista.
   Quanto à Rússia, ficaria sem a base da sua Frota do Mar Negro, seu único ponto de entrada para o Mediterrâneo e para países como a Síria, Líbano, Israel e até Egipto, sendo a situação política, neste último, também longe de ser estável.
   Também recuaria a fronteira da esfera de influência russa, para os limites do Cáucaso, colocando-a fora do continente europeu, para sempre, dado que os países da antiga europa de Leste e até algumas antigas repúblicas soviéticas já se tornaram, entretanto, membros da NATO e da União Europeia.
   Um preço demasiado alto para Putin ficar de braços cruzados. Daí estar disposto a arriscar uma guerra e a pagar o seu preço, sempre inferior a uma suposta perca de influência na placa euroasiática e de uma expulsão, de facto, da Rússia do leste da Europa. Tem-no feito.
   Ao invés, com uma viragem na Ucrânia, os Estados Unidos e a Alemanha teriam muito a ganhar, pois colocariam a Rússia fora das fronteiras da Europa e retiravam-lhe capacidade de intervenção, no Médio Oriente, condenando-a a ser uma potência secundária, com uma acção de influência e intervenção limitada à remota Ásia Central, para sempre. Algo de inadmissível, para Putin.
   Mas será que estes ganhos compensariam o preço a pagar, numa suposta guerra com os russos?
   Talvez não. Daí a solução militar estar, por agora, fora de questão, pela parte do Ocidente.
   Devido às características étnicas da população do Sul e do Leste da Ucrânia, nomeadamente as suas ligações á Rússia, a guerra civil no país tornou-se uma consequência natural, e de difícil resolução, dos disparates e dos sonhos megalómanos alemães.
   Só mesmo uma intervenção militar russa, a larga escala, mas de consequências imprevisíveis, o fará.
   A caixa de Pandora está aberta!

terça-feira, 15 de abril de 2014

A inviabilidade económica da Moeda Única

   O chamado projecto europeu nasceu das cinzas da II Guerra Mundial, com o objectivo final de jamais os estados europeus voltarem a guerrear-se entre si, pois a consequência de duas guerras mundiais, em pouco mais de trinta anos, foi a perda definitiva da hegemonia europeia no mundo, a favor dos Estados Unidos.
   Na persecução desse objectivo, foi decidida a colocação, sob uma autoridade comum, do carvão e do aço, na altura, materiais essenciais para fazer a guerra, nascendo assim a CECA (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço), em 1951.
   Posteriormente, após os Tratados de Roma (1957) e de Maastricht (1992), a construção europeia assentou sob dois pilares essenciais: a livre circulação de pessoas e bens e a criação de um mercado comum, culminando o mesmo com o estabelecimento de uma Moeda Única.
   Por imposição da recém reunificada Alemanha, os países teriam de cumprir uma série de Critérios de Convergência, em política macroeconómica, a fim de poderem aderir à futura Moeda Única, nomeadamente um controlo apertado da inflação, um défice público que não poderia exceder os 3% do PIB anual, uma Dívida Pública que não ultrapassasse os 60% desse mesmo PIB, entre outros. Todas são políticas que abrandam e fazem retroceder, o crescimento económico.
   Ao tomar estes Critérios de Convergência como uma finalidade em si, em detrimento do crescimento das respectivas economias e do bem-estar das populações, a Europa começou a sofrer de uma cada vez mais desigual distribuição da riqueza produzida, pois governava-se para os números macroeconómicos e não para a economia real, muito menos para as pessoas, que foram vendo o seu salário real diminuir e o desemprego a aumentar, abandonando-se definitivamente o objectivo do pleno emprego.
   Ao mesmo tempo, em países como Portugal, destruía-se o sector produtivo, nomeadamente a agricultura e a indústria, em troca de fundos comunitários com destino duvidoso, o que retirou autonomia ao país para produzir bens essenciais, tornando-o ainda mais dependente das importações e do exterior, e por conseguinte, da vontade e de interesses alheios.
   A imposição de políticas neo-liberais de desregulação dos mercados financeiros, flexibilização das leis laborais e de enfraquecimento e privatização do sector público, foram ao longo dos anos agravando ainda mais a situação do país e das pessoas, suposto destino final de toda e qualquer governação.
   A partir de 1999 e com a criação efectiva do Euro, a Alemanha voltou a impor a sua vontade na política macroeconómica dos Estados Membros, ao criar o chamado “Pacto de Estabilidade e Crescimento”, que reiterava os pressupostos dos Critérios de Convergência, amarrando eternamente as economias mais frágeis a objectivos de inflação, défice e dívida pública, que as impediam de crescer. É o que acontece, desde então.
   Para agravar a situação, o Euro é uma moeda forte, altamente valorizada, o que é óptimo para os interesses das empresas alemãs, exportadoras de maquinaria e tecnologia, mas que retira competitividade às restantes economias, que assim vendem os seus produtos mais caros nos mercados internacionais.
   A “solução” encontrada é uma baixa generalizada de salários, algo que já se verifica, ao invés da opção por uma divisa mais fraca e por conseguinte, mais competitiva e geradora de crescimento e de emprego.
   Torna-se óbvio que economias com características tão diferentes não podem partilhar a mesma divisa, muito menos a mesma política monetária e cambial imposta pelo Banco Central Europeu, sob pena de umas ficarem a ganhar e outras saírem fortemente penalizadas. Daí o Euro ser inviável como moeda, pois só serve os interesses das grandes economias exportadoras, em detrimento das restantes, quase sem crescimento desde que adoptaram a Moeda Única, em 1999.
   Assim se explica a chamada “crise da dívida”, que rebentou na Grécia, em finais de 2009 e que rapidamente alastrou a todo o sul da Europa.
   A “solução” imposta para a resolução da crise da dívida soberana foi a insistência e aprofundamento dos erros acima enumerados e que vêm sido cometidos nas últimas décadas, cujas consequências se sentem a todos os níveis da vida do país e das pessoas: finanças públicas depauperadas, economia em recessão, cortes orçamentais na saúde, segurança social e educação, desregulação das leis laborais, impondo a regra do mais forte – o patrão – e venda ao desbarato do património público, nomeadamente de sectores estratégicos, tais como a banca, a energia e até recursos naturais como a água!
   Tudo isto leva à destruição de Portugal como Estado Soberano e independente, tendo como consequência a escravização do seu povo, transformado em mera mão-de-obra barata, ao serviço das grandes empresas exportadoras.
   Em suma, o Euro, ao invés de unir a Europa, dividiu-a, tornando-a refém da banca privada, dos interesses das grandes multinacionais e dos grandes estados.
   Finalmente, urge lembrar que após a saída da Troika, Portugal ficará amarrado ao Tratado Orçamental, imposto pela Alemanha a todos os restantes países, que aprofunda os critérios acima enumerados e ainda exige aos seus signatários a alteração das respectivas Constituições, a fim de serem introduzidos limites ao défice e à dívida pública, nas mesmas!
   Posto isto, torna-se urgente a saída da Moeda Única, não só para Portugal, como também para os países em situação semelhante, sob pena de se tornarem meros protectorados coloniais ao serviço dos interesses da banca privada e das multinacionais alemãs.