sábado, 3 de julho de 2021

IMPUNIDADE, DESRESPONSABILIZAÇÃO E DESCARAMENTO – Resumo de uma semana ilustrativa do país que temos

 


Um milionário que não tem nada de seu, pede mil milhões emprestados à banca, num esquema ainda por clarificar, nomeadamente em como os bancos lhe deram tamanho crédito com tão frágeis garantias.

É interrogado na Assembleia da República e goza com a cara dos deputados; posteriormente é detido e libertado sob uma fiança de cinco milhões de euros que alguém pagará, já que o senhor em questão diz viver na mais miserável pobreza franciscana.

Um Ministro da Administração Interna viaja a duzentos quilómetros por hora no auto-estrada, quebrando todos os limites de velocidade quando tinha a obrigação moral e política de ser o primeiro a dar o exemplo, pois o seu Ministério tutela todas as polícias de trânsito deste país, essas mesmas que multam impiedosamente o cidadão comum se o mesmo ultrapassar os cento e vinte quilómetros por hora.

A pressa do Ministro provoca um acidente com um óbito, mas o responsável político recusa demitir-se, ainda se vitimizando pelo sucedido.

Ao mesmo tempo que nos enchem de regras, restrições e dois dolorosos confinamentos, as autoridades de saúde (Ministério da Saúde, Direção-Geral de Saúde e Ministério da Administração Interna) permitiram a entrada de turistas e adeptos ingleses, que fizeram impunemente tudo o que é proibido aos portugueses: desde andar na rua sem máscara, aos ajuntamentos de dezenas/centenas de pessoas na via pública ao beber álcool nessa mesma via pública – e andarem alcoolizados, ao ponto de fazerem vários desacatos.

Ao mesmo tempo que as conseqüências desta negligência das autoridades já se fazem sentir no disparar do número de casos de covid, a diretora da DGS diz que a vinda dos adeptos ingleses “correu bem”, enquanto os ministérios da Saúde e da Administração Interna assobiam para o lado quando se trata de ingleses, mas multando impiedosamente quem fura as cercas sanitárias, as restrições e os confinamentos, dando a sensação que o império da lei é só para uns, mas não para todos.

Enquanto a elite económica rouba a seu bel prazer, goza com a situação e não lhe acontece nada (e não é só o Berardo, há mais!), a elite política comete erros, usa dualidade de critérios na aplicação das leis e também não assume as responsabilidades que seriam inerentes ao exercício de um cargo político.

Não só o Berardo não é preso, como os ministros da Administração Interna e da Saúde, assim como a responsável pela DGS não se demitem.

Resumindo, em Portugal ninguém assume responsabilidades, quer seja pelo estado económico em que o país foi colocado, que culminou com a entrada da Troika (2011), quer seja pelo estado sanitário em que nos encontramos atualmente, conseqüência direta da má gestão da pandemia e da negligência das autoridades de saúde.

Para cúmulo, transmitem à população uma sensação de dois pesos e de duas medidas: elites que roubam e andam em excesso de velocidade e nada acontece, políticos que só fazem disparates e ninguém assume nada, ao mesmo tempo que o comum dos cidadãos vai preso se rouba, paga as suas multas se é apanhado em excesso de velocidade ou a violar as regras sanitárias e é demitido do seu emprego se cometer o mais pequeno erro.

Quanto às elites se safarem de tudo o que roubam, estamos conversados há muito.

Quanto aos ministros e responsáveis sanitários que se deveriam demitir, a teimosia em ficarem acabará por colocar em causa a própria sobrevivência do Governo, nomeadamente se for necessário recorrer a um novo confinamento para travar o aumento de contágios por covid.

E atendendo ao perigo das possíveis alternativas a esse mesmo Governo, portadoras do defeito do elitismo económico e do fascismo político, não se auguram bons tempos para os lados desta ocidental bandalheira lusitana.

Ninguém vai preso, ninguém se demite, ninguém assume nada e não acontece nada. A impunidade é total!

Para concluir, um país que aplica regras e leis para uns, mas assobia para o lado quando são outros, não pode ser considerado uma Democracia; é antes uma Oligarquia podre e parola, vulnerável ao primeiro vendedor da banha da cobra com que se depare.

E depois, admiram-se como ele foi lá parar – a seu tempo e para mal dos nossos pecados.