terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Cleptocracia




Uma vez, alguém disse que existem várias formas do Estado se organizar. Pode ser uma Democracia, uma Ditadura; pode ser Socialista, Capitalista, etc... mas esqueceu-se da palavra que define a organização e a estrutura de certos estados: cleptocracia.

Quando o Estado angolano quase vai à falência e precisa de ajuda do FMI (2016) fica muito difícil dizer que é a saúde, a educação e as pensões de reforma que levam o dinheiro todo, sob pena de um descaramento primário.

Então, preferiram dizer que a "culpa" foi da baixa do preço do petróleo (a partir de 2014) e posteriormente, da corrupção.

Ninguém abandona o poder de livre vontade. Ponto.

Principalmente se for um autocrata, eleito de forma muito duvidosa e com uma clientela oligárquica cuja sobrevivência depende da continuidade de certo indivíduo na presidência.

Mas devido à gravidade da crise económica e financeira de 2016, Zedu deixou de ter condições políticas para se manter no poder, sendo este o verdadeiro e único motivo para a sua saída, pois a teoria do "estou velho, cansado e doente" não passa de um mito.

É que com a sua saída do poder, essa elite clientelar e cleptocrática que dele dependia, também se viu forçada a abandonar as estruturas desse mesmo poder; sendo substituída por uma outra elite com as mesmas características, sedenta de revanchismo e como é evidente, também ansiosa de pôr as mãos nos já depauperados recursos ao Estado angolano.


Em 2017 assistimos à mudança na presidência e à mudança dos protagonistas, mas sem que o regime de cleptocracia terminasse.

Não obstante, o sentimento de vingança e a necessidade de encontrar "culpados" pela crise económica de 2016, a fim de perpetuar o MPLA no poder, levou a atual elite angolana a dar caça a tudo o que "cheire" a Zedu.

Como é evidente, só com uma ingenuidade de bradar aos céus é possível acreditar que quem começa a vida vendendo ovos é capaz de construir um império empresarial somente com o seu mérito.

Ao darem entrevistas na televisão, só mostraram uma arrogância reveladora do quanto são culpadas pela depredação dos recursos que deveriam ser de todos os angolanos.

E ainda falta sabermos das relações perigosas entre essa mesma pessoa e as elites políticas e económicas portuguesas, algo que dificilmente verá a luz do dia, sob pena de explosão.

Na economia portuguesa, nos próximos meses, é de temer que tenhamos mais um banco para resgatar, fruto dessas mesmas relações perigosas entre os cleptocratas "d'aquém e d'além mar".

Atendendo a cobardia e à docilidade com que as autoridades portuguesas tratam dos assuntos angolanos, será um assunto pacífico: pagaremos e não bufaremos, com a comunicação social, alguma dela controlada por angolanos, a calar devidamente o assunto.

O problema é que, tanto em Portugal, como principalmente em Angola, os únicos que são realmente inocentes no meio disto tudo, são os que sofrem as conseqüências destes jogos de poder entre duas pseudo-elites que vivem do saque e não do tal mérito que tanto apregoam ter.

domingo, 5 de janeiro de 2020

O Preço da Loucura




Nunca Trump se descreveu a si próprio de modo tão sucinto: egoísmo, soberba, arrogância e falta de humildade de alguém que prefere sempre a força bruta à negociação, ao acordo escrito ou ao respeito.

Está a precisar de uma lição de humildade e de humanidade, que o faça ver que o mundo não lhe pertence e que não faz o que quer.

Não obstante a verborreia de taberna, é impossível não reparar no dinheiro que os Estados Unidos gastam em defesa: Dois triliões de dólares, dados a ganhar a uma indústria de armamento sedenta por uma nova guerra, para conseguir novas vendas, contratos e lucros, tudo à custa do sofrimento humano de civis inocentes.

Dois triliões de dólares… quantos problemas a Humanidade não resolveria com essa quantia? Das alterações climáticas à pobreza, passando pelo combate a variadíssimas doenças ainda sem cura.

Quanto sofrimento humano não termina? Quanta exploração laboral? Quanta fome? Quantas crianças sem escola? Quantas vítimas de doenças tratáveis?

Quanto a Humanidade não progride e evolui, só para que Trump, os Estados Unidos e a sua indústria de armamento possam continuar a lucrar?

Simplesmente pornográfico.

A fim de desviar as atenções dos Estados Unidos e do mundo em relação ao seu processo de destituição, Trump optou por uma política externa agressiva, quase que provocando deliberadamente uma guerra, algo de conseqüências que ele e o seu incompetente staff são totalmente incapazes de controlar e de medir.

A irracional escalada de tensão e de retaliações, por ambos os lados, poderá originar uma guerra devastadora, cujos intervenientes não serão somente os Estados Unidos e o Irão.

Fazer uma guerra tem o seu preço e Trump parece não ter a noção que uma guerra com o Irão fará os Estados Unidos e os seus políticos pagar um preço demasiado alto para ser admissível.

Não só um preço económico e político, mas também um preço militar, humano e até geopolítico; em resumo, o que os Estados Unidos supostamente beneficiarão numa previsível vitória é muito menos do que o preço que pagarão pela mesma, concluindo-se pelo bom senso (que não impera) que não compensa fazer a guerra.

E se Trump não tem a noção disto, não passa de um louco sem condições para ser Presidente dos Estados Unidos.

Se os Estados Unidos vencerem uma guerra contra o Irão, controlando o seu petróleo e o Estreito de Ormuz, por onde passa a maioria do petróleo mundial, ganharão uma vantagem geoestratégica decisiva sobre a Rússia e a China, criando um enorme desequilíbrio de forças entre as superpotências, algo que será considerado intolerável por russos e por chineses.

Desta forma, só restará à Rússia e à China irem até às últimas conseqüências, para impedir os norte-americanos de obter essa supremacia, existindo a possibilidade real de ambos agirem militarmente contra dos Estados Unidos da América, caso estes ataquem o Irão.

Demasiado grave.

É urgente que impere a racionalidade e o bom-senso, sob pena da eclosão de uma guerra entre as grandes potências, algo que não acontece desde o final da II Guerra Mundial, em 1945.

Guerra essa que todos perderão, nem é necessário referir o motivo.

sábado, 4 de janeiro de 2020

O mapa fascista




Atendendo ao historial de desejo anexionista do fascismo espanhol, é impossível considerar este mapa peninsular do Vox um mero lapso ou sequer falta de jeito para desenhar.

Herdeiro político de Franco, tenta o Vox concretizar o projeto de anexação de Portugal, equacionado pelo sátrapa em 1940 e em 1975, possuindo a mesma visão de nação imperial do fascismo clássico.

Não são raros os académicos espanhóis afectos a Franco, que consideram a perda de Portugal, em 1640, de um "error histórico", pois opinam que Olivares (Primeiro-Ministro do Rei Filipe IV) deveria ter priorizado sufocar a revolta em Portugal, do que reprimir a da Catalunha, como veio a acontecer.

E se forem bem "puxados" na conversa, continuam a defender a anexação de Portugal, propondo a colocação da capital em Lisboa, para nos "prender pelo cachaço" (Filipe II fez isso, logo a seguir a 1580), e o uso da bandeira do antigo Reino de Aragão (por ser a mais antiga).

Ventura ou Salazar são fascistas, mas em comparação com o extremismo exposto no parágrafo anterior, não passam de meros aprendizes de feiticeiro!

Como é público, existem políticos portugueses que não vêem no Vox um partido fascista; são os mesmos a quem lhes deveria ser aberta uma janela, para voarem no sentido inverso de Carrero Blanco, seguindo o exemplo de Vasconcelos.

É que mais grave que traírem Portugal, traem a liberdade, a democracia, a diversidade peninsular e a tolerância para com todos os povos, ibéricos e não só.

Se existe lição que a História nos dá, é que a mesma não tem factos consumados nem dados adquiridos, sendo o seu devir eterno e imprevisível.

O que hoje pode parecer algo sem sentido, amanhã poderá tornar-se uma inevitabilidade, cabendo-nos a nós zelar para que continue a ser um disparate.

Sabemos que a economia globalizada se tornou demasiado forte para que sejam necessárias invasões militares clássicas; mas também sabemos que essa mesma globalização também proporciona um mais fácil contágio das mentes com ideias de ódio, de intolerância, de racismo e de fascismo, com a sua inevitável componente nacionalista e imperialista, causadora de tanto sofrimento humano ao longo dos milénios.

Que com este mapa, o Governo português aprenda a lição e se saiba colocar do lado certo da História, sempre que trata a questão da Catalunha como um mero "assunto interno", traindo Aragão e Catalunha, os nossos aliados históricos na luta contra a hegemonia de Castela na península.

Que com este mapa, muitos que se dizem nacionalistas, mas ao mesmo tempo apregoam a “unidad de España” na questão catalã, percebam a ridícula contradição em que caem.

A libertação dos povos peninsulares não está na anexação de Portugal por Espanha, pelo contrário, isso seria o perpetuar do franquismo, do fascismo e da opressão.

A libertação de portugueses, galegos, asturianos, bascos, catalães, aragoneses, leoneses, castelhanos e andaluzes, encontra-se numa Ibéria de povos, federal, republicana e solidária, sem o Bourbon e sem partidos fascistas.