terça-feira, 15 de agosto de 2017

Incêndios, problema adiado - Causas e Soluções


Depois do que escrevi – e mantenho - aquando da tragédia de Pedrogão, decidi que neste Verão, não dedicaria mais prosa à temática dos incêndios, sob pena de me tornar repetitivo.

Mas quando vejo o país inteiro a arder – em sentido literal! – torna-se numa necessidade voltar ao tema, mesmo que isso implique recalcar coisas recentemente escritas.

Ao dizerem-nos, que incêndios constantes e recorrentes, deflagrados a meio da noite e em várias frentes, são fruto “das altas temperaturas”, “do Sol”, das “alterações climáticas” ou de um “raio”, estão, em bom português, a gozar com a inteligência das pessoas, mesmo dos mais distraídos.

Nem é preciso referir o demasiado óbvio: fogo posto.

Não porque o cigarro ficou mal apagado, ou o foguete da festa de aldeia foi lançado com descuido, nem sequer porque o churrasco feito na mata incendiou a mesma.

Não é que as situações acima referidas não provoquem fogos – é evidente que provocam! – mas nunca com as proporções e freqüência a que assistimos, por estes dias.

Resta sabermos por quem e com que motivações o fogo é posto, já que a investigação sobre Pedrogão permanece no segredo, tanto de Justiça, como dos deuses.

Quais as motivações?

- No Portugal profundo, as obscuras correlações de forças, em termos locais: os terrenos que se vendem e compram – e os seus preços – os pinheiros que se abatem para a indústria da madeira, os eucaliptos que se plantam para a celulose, as vingançazinhas pessoais, os interesses mesquinhos, a política local, nomeadamente, em ano de Autárquicas;

- A especulação imobiliária com os terrenos ardidos, onde, em muitos deles, o PDM proíbe a construção. Mas sabemos que, entre aquilo que a lei proíbe, e aquilo que se faz, pode ir uma distância enorme, nomeadamente quando os mecanismos de controlo do cumprimento da lei são, em muitos casos, ou inexistentes ou promíscuos;

- A lei de reflorestação da Cristas, que liberalizou a plantação de eucaliptos, dando um lucro enorme aos seus proprietários – e à indústria da celulose – encorajou o incêndio dos pinhais, para sua posterior substituição por eucaliptais;

Quais as soluções?

- A existência de uma regionalização do país, que substitua as opacas CCDR’s – Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional – por um poder com rosto, eleito por sufrágio universal e democrático, controlado por todos nós; Uma das funções dessas Regiões Administrativas, seria controlar, moderar e limitar as atividades locais que não cumprissem as leis; outra das funções, seria o planeamento e gestão das florestas;

- A existência de um planeamento florestal e de uma legislação que priorize a plantação das espécies autóctones, em detrimento de um eucalipto estranho ao ecossistema, que só o destrói;

- Legislação no sentido da nacionalização de terrenos abandonados e não limpos, visando a sua requalificação;

- E só no fim, e menos importante, o agravamento das penas, não dos incendiários, mas dos mandantes, dos autores morais, que em última análise, são os responsáveis pela destruição, pelo sofrimento e pela morte!

Espero não ter que voltar à temática dos incêndios. Significaria que nada está a ser feito, num problema que se arrasta, há décadas!


Todos nos solidarizamos, todos condenamos, todos pensamos que isto jamais irá acontecer. Mas nada fazemos...