Desde o início, toda esta história de Tancos é confusa e
muito mal contada, assumindo contornos muito obscuros desde que transpirou um
suposto roubo de armas até ao facto das mesmas terem reaparecido (!!!), como
por magia; já para não falar nas rivalidades entre as polícias que investigaram
o caso, que não ajudou a um apuramento da verdade.
Ao fim de mais de dois anos, continuamos sem saber
praticamente nada acerca da trapalhada de Tancos: Quem roubou? A mando de quem?
Com que objetivos? Se os encarregados pela segurança dos paióis foram
negligentes ou cúmplices? Quais as responsabilidades, tanto judiciais como
políticas, que deverão ser atribuídas e a quem?
Independentemente do ónus que cada um terá, só por pueril
inocência poderá ser considerada coincidência, este oportuno desenterrar da
questão do roubo das armas, num momento em que muitos cidadãos ainda não
decidiram em quem votar.
Sabendo que as sondagens lhe davam um resultado
catastrófico, o principal partido da oposição faz uso da sua enorme capacidade
mobilizadora, não só junto de certos poderes do Estado, que se queriam
independentes, como também junto da comunicação social, no seio da qual goza
dos favores, não só dos jornalistas, mas acima de tudo, dos seus comentadores
de serviço, maioritariamente militantes assumidos do PSD.
Não tencionando secundarizar as responsabilidades políticas
e até judiciais, que eventualmente terão alguns membros do atual Governo, mas
simplesmente chamando a atenção que o momento em que chega este reerguer da
questão de Tancos não é inocente, tendo como objetivo, não o apuramento da
verdade ou punir os culpados, mas influenciar o voto dos cidadãos em favor do
principal partido da oposição.
Não é por acaso que a campanha do PSD já se está a centrar
quase exclusivamente na questão de Tancos, secundarizando a discussão, já por
si muito pobre e demasiado demagógica, das propostas e soluções que cada força
política diz ter para o país.
Não só fará descer o nível do debate eleitoral – por si só,
já tão baixinho – como também irá recentrar a agenda da campanha, focando-a neste
conveniente caso, para evitar a derrota épica a que parecia condenando.
Que se apure a verdade e que existam conseqüências, tanto
judiciais como políticas, para os responsáveis; mas que jamais se use uma
questão tão séria para deturpar o debate eleitoral, abandonando-se
definitivamente ideias e propostas, só para agradar aos interesses do PSD.
Até ao dia das eleições, ficarão os cidadãos deste país
condenados a ouvir, não as pretensas soluções que cada partido ou coligação tem
para todos nós, mas antes se o Ministro da Defesa ou o Primeiro-Ministro se
deveriam ou não demitir.
Impossível descer mais baixo no debate. Perdem os
cidadãos. Perde a Democracia.