segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Tancos - Uma oportuna trapalhada



Desde o início, toda esta história de Tancos é confusa e muito mal contada, assumindo contornos muito obscuros desde que transpirou um suposto roubo de armas até ao facto das mesmas terem reaparecido (!!!), como por magia; já para não falar nas rivalidades entre as polícias que investigaram o caso, que não ajudou a um apuramento da verdade.

Ao fim de mais de dois anos, continuamos sem saber praticamente nada acerca da trapalhada de Tancos: Quem roubou? A mando de quem? Com que objetivos? Se os encarregados pela segurança dos paióis foram negligentes ou cúmplices? Quais as responsabilidades, tanto judiciais como políticas, que deverão ser atribuídas e a quem?

Independentemente do ónus que cada um terá, só por pueril inocência poderá ser considerada coincidência, este oportuno desenterrar da questão do roubo das armas, num momento em que muitos cidadãos ainda não decidiram em quem votar.

Sabendo que as sondagens lhe davam um resultado catastrófico, o principal partido da oposição faz uso da sua enorme capacidade mobilizadora, não só junto de certos poderes do Estado, que se queriam independentes, como também junto da comunicação social, no seio da qual goza dos favores, não só dos jornalistas, mas acima de tudo, dos seus comentadores de serviço, maioritariamente militantes assumidos do PSD.

Não tencionando secundarizar as responsabilidades políticas e até judiciais, que eventualmente terão alguns membros do atual Governo, mas simplesmente chamando a atenção que o momento em que chega este reerguer da questão de Tancos não é inocente, tendo como objetivo, não o apuramento da verdade ou punir os culpados, mas influenciar o voto dos cidadãos em favor do principal partido da oposição.

Não é por acaso que a campanha do PSD já se está a centrar quase exclusivamente na questão de Tancos, secundarizando a discussão, já por si muito pobre e demasiado demagógica, das propostas e soluções que cada força política diz ter para o país.

Não só fará descer o nível do debate eleitoral – por si só, já tão baixinho – como também irá recentrar a agenda da campanha, focando-a neste conveniente caso, para evitar a derrota épica a que parecia condenando.

Que se apure a verdade e que existam conseqüências, tanto judiciais como políticas, para os responsáveis; mas que jamais se use uma questão tão séria para deturpar o debate eleitoral, abandonando-se definitivamente ideias e propostas, só para agradar aos interesses do PSD.

Até ao dia das eleições, ficarão os cidadãos deste país condenados a ouvir, não as pretensas soluções que cada partido ou coligação tem para todos nós, mas antes se o Ministro da Defesa ou o Primeiro-Ministro se deveriam ou não demitir.

Impossível descer mais baixo no debate. Perdem os cidadãos. Perde a Democracia.

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Histeria Adolescente


Apesar de nos dizer três ou quatro verdades de almanaque sobre as alterações climáticas, a menina Greta Thunberg destilou um ódio e uma raiva roçando a demagogia histérica, estando-se a fazer ao Prémio Nobel da Paz com um descaramento que poucos tiveram, o que não ajuda numa luta que deveria ser de toda a Humanidade.


É que ao invés de hoje estarmos a discutir o que todos deveríamos fazer para paliar uma evidência científica, antes temos o planeta a debater se são justificados, ou não, os gritos de uma adolescente histérica.

E mesmo depois das coisas que muito bem referiu, esqueceu-se a Greta, de focar no principal: não são só os políticos os responsáveis pelas emissões de CO2, mas todos nós, com o nosso modo de vida.

Ou estamos dispostos a mudar os nossos hábitos, ou não serão os políticos os únicos responsáveis no que toca a um qualquer previsível cataclismo.

Se lhe derem o Nobel da Paz à Greta, gostaria de saber se vai para Oslo de barco à vela, ou se se vai aquecer apenas com cobertores, quando receber o Prémio em Dezembro, no auge do rigoroso Inverno escandinavo…

É evidente que falta vontade política para encarar de frente o problema das alterações climáticas e nisso, a menina Greta tem razão.

Mas só haverá vontade política quando nós, cidadãos do mundo, tomarmos consciência que um carro, uma viagem de avião, ou outros mil confortos dos quais não abdicamos, terão que acabar ou ser muito reduzidos, sob pena do planeta não agüentar a predação de recursos.

Falam-se dos motores ecológicos, elétricos ou amigos do ambiente, mas esquecem do CO2 que foi necessário para os fabricar.

Claro que devem haver regras na emissão de CO2, que se devem aperfeiçoar e otimizar os gastos de energia e sem dúvida, os políticos têm um papel fulcral nisso, nomeadamente no combate aos todos poderosos lobbies económicos, que se estão a borrifar para a Terra, preferindo “otimizar os lucros”, como dizem os manuais de economia política.

É neste último aspecto que se condena Trump e a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris.

Desde que haja vontade política, existe um mundo de soluções alternativas às emissões de CO2; mas a mudança começa por nós próprios, pelos nossos hábitos e comportamentos, pelo nosso modo de vida.

Depois, sem dúvida que teremos legitimidade para cobrar dos políticos e acima de tudo, do poder económico, do qual os políticos não passam de meros fantoches.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

A AGONIA DO CACIQUE ILHÉU E AS LIÇÕES A TIRAR NO CONTINENTE

Existem locais onde a Democracia custa mais a chegar, não podendo ser considerado democrático um regime estabelecido numa comunidade relativamente fechada, onde o mesmo partido ganha eleições, desde há quarenta e tal anos.
Quando o caciquismo e o caudilhismo, aliados a uma pobreza mal escondida em estatísticas do PIB, e a uma muito desigual distribuição da riqueza, viciam todo e qualquer ato eleitoral; em que o sentido de obediência e o medo de represálias, de uns, e o ganhar a todo o custo, de outros, são mais decisivos na hora de votar, do que qualquer programa eleitoral, ideia ou proposta.
Nas eleições de ontem, ninguém se ficou a rir, pois nenhum partido ou coligação cumpriu os objetivos a que se propunha.
Uns perderam a maioria absoluta que detinham há mais de quarenta anos, num ato de coragem do povo madeirense que poderá custar caro a alguns, mas que semeou a real possibilidade de assistirmos, a médio prazo, a uma alternância de poder na Madeira, que levará, finalmente, a Democracia à ilha de Alberto João e seus seguidores.
Outros não conseguiram vencer as eleições, apesar da enorme subida de votação, algo que pode augurar uma votação histórica no PS, dentro de dias, à custa de todos os outros, pois os socialistas têm capacidade para ir buscar votos, não só ao centro e à direita, como também à sua esquerda.
Outros ainda viram a sua representação parlamentar desaparecer (BE) ou quase (CDU), ou reduzir-se a menos de metade (CDS), tendo todos perdido votos para um PS que encontrará na Madeira o alento e até o balanço para a almejada maioria absoluta, algo que, simultaneamente, será o auge político de Costa e o princípio do seu fim.
Tudo conseqüências da popularmente conhecida por “geringonça”, que não só correu com Portas e Passos Coelho, como também deu estabilidade política ao país, como ainda conseguiu conquistas sociais interessantes, embora insuficientes, nomeadamente por mérito dos seus parceiros de esquerda, BE e PCP.
Mas no fim, ganhará o PS.