O pior que poderia acontecer à
Esquerda européia seria o governo Syriza ceder à sacrossanta austeridade.
Não só descredibilizaria a
Esquerda, confundindo seus governos com uma qualquer terceira via
pseudo-socialista, preconizada por PS, PSOE, PSF, SPD ou Labour, que não
obstante o floreado discurso, nada traz de novo ao diktat de Berlim...
Como também criará brechas e
divisões indesejáveis e até suicidas, no seio daqueles que lutam sinceramente
por uma verdadeira política alternativa ao totalitarismo da moeda única.
Devo lembrar que, se a Esquerda
falhar nestas horas graves, esgotar-se-á a última oportunidade para resolver a
crise grega e européia no âmbito da democracia representativa, cedendo lugar e
espaço para o Fascismo latente, mas atento, se tornar dominante.
Depois de o povo grego ter dito
um rotundo “não” à continuação da austeridade, num referendo convocado pelo
próprio Syriza, a posição política deste último se reforçou o suficiente para
não ceder às pressões das instituições européias, respeitando dessa forma a
vontade de seu povo, não se traindo a si nem em quem em si depositou confiança.
Um primeiro sinal preocupante foi
a demissão do Ministro Varoufakis, a fim de “facilitar as negociações”,
deitando assim fora o capital político ganho com o referendo. Um erro e uma primeira
cedência determinante, pois excluiu o vencedor do referendo de tão cruciais
negociações.
Sabemos ser muito difícil lutar
sozinho contra toda uma oligarquia de poderes econômicos e políticos, mas
também somos conscientes dos perigos, para a Europa e para a Democracia, de uma
capitulação negocial do governo grego.
Cedeu à austeridade em dois
pontos, nos quais não poderia ter cedido: sistema de reformas e IVA.
Quanto ao IVA, como imposto regressivo que é, o seu aumento é sentido pelas classes mais altas, mas principalmente pelas classes mais baixas, que não podem fugir à aquisição de eletricidade, água, roupas ou alimentos. Pagarão mais por tudo isso.
Quanto às pensões de reforma, sabemos
que o sistema grego era conhecido por generoso, mas a eliminação do subsídio
das pensões mais baixas e o aumento da idade da reforma, não só se mostram
socialmente cegos, como também só contribuem para a continuação do aumento do
desemprego.
Também cedeu no capítulo do não
perdão da dívida, condenando a Grécia a viver eternamente endividada,
condenando a Grécia a décadas da continuação da austeridade que só trarão
consigo mais recessão econômica e sofrimento inúteis, reduzindo o país a um
mero protetorado da União Européia e escravizando sua população.
Posto isto, não percebo o objetivo político prático do referendo em que 61% da população grega se manifestou contra mais medidas de austeridade, pois através dele e em consonância com os cortes anunciados, Tsipras se deslegitima como governo e como negociador.
Também fica demonstrada a
irreformabilidade da União Européia e da moeda única: ou se fica no euro e se aceita
a austeridade, ou se sai. Não existe o meio termo, como em qualquer
totalitarismo.
A tudo isto, se junta mais um fator,
relacionado com a incapacidade de um partido dito de Esquerda construir uma
alternativa credível, dentro ou fora da moeda única.
Ficam as portas abertas para a
Frente Nacional e a Aurora Dourada se assumirem como alternativa, o que levará
a Europa para um inevitável abismo e para a catástrofe certa.