“Portugal está em decadência”,
alguém afirmou hoje. Talvez tenha tropeçado numa verdade histórica que se está
consumando desde o século XVI, já referida e exposta por Antero de Quental, por
volta de 1870, nas célebres conferências do casino.
Sob um ponto de vista
explicativo, as nações podem ser consideradas corpos vivos, pois nascem,
crescem, reproduzem-se, cumprem-se, decaem e finalmente, morrem. É por isso que
a História está cheia de nações até de Impérios, aparentemente eternos e
invencíveis, que hoje não passam de uma mera recordação dos livros de História.
Não obstante, o legado e
contribuição, dessas nações e povos, far-se-ão sentir para sempre, sob as mais
diversas formas: cultura, religião, língua, escrita, descobertas, entre outras
coisas aparentemente tão subtis e insignificantes.
Portugal nasceu de um pequeno
condado do ocidente da Europa, filho de iberos, celtas, lusitanos, romanos e
visigodos. Cresceu para sul, incorporou e tornou próprias as influências de
outros povos, nomeadamente árabes, e foi para o mar dar “novos mundos ao Mundo”,
deixando desse modo, a sua marca incontornável e inegável na História mundial,
tendo-se assim cumprido.
Cumpriu-se no descobrimento e no
incorporar no mundo vastas regiões desconhecidas, mas também se cumpriu ao
deixar a língua, a cultura, os valores e o modo de ser e de pensar, em terras
distantes como o Brasil ou Angola, para não falar de Timor.
Sem discutir os contornos e as
injustiças das colonizações, creio ser unanimemente aceite a influência
portuguesa nos fatores e nos locais enumerados. Legado esse que ficará para
sempre, independentemente das transformações políticas e econômicas sofridas e
a sofrer, por esses povos.
Talvez seja essa a herança, o tal
V Império de que falavam o Padre Antônio Vieira ou Fernando Pessoa, e que
consiste em tudo o que sobreviverá ao possível desaparecimento do Portugal
europeu, pelo menos, como entidade política autônoma, que a entidade econômica
há muito que morreu.
E não será coisa pouca, pois como
referido, fatores como a língua, a cultura, as pequenas invenções, as
construções e o jeito de ser ou pensar, sobreviverão a toda e qualquer
transformação e a toda e qualquer incompetência ou falta de zelo, deste ou
daquele poder político, cujos tempos atuais são fecundos.
Será dessa forma e nesses locais que
o conceito “Portugal” se eternizará na História, pois esgotou como espaço
político autônomo europeu, fruto do acumular de erros e de vistas curtas.
A decadência portuguesa foi a
mesma dos outros impérios, fundamentada no ócio e no deslumbramento. Primeiro, a
pimenta indiana do século XVI, depois o ouro brasileiro do século XVIII, os
diamantes africanos dos séculos XIX/XX, e finalmente os fundos europeus, no
final do século XX.
Em todas as situações referidas
os irresponsáveis políticos e econômicos pensaram que a história teria um fim,
que a fonte de rendimento seria eterna e que já não seria preciso atualizar a
economia, fossem nas técnicas, nos métodos ou nas indústrias.
Vemos e sentimos os resultados,
todos os dias.
O que restou? Um legado e um
papel incontornáveis na cultura e na História mundiais e que viverá para sempre,
mas insuficiente para fazer sobreviver Portugal como entidade política uma e
autônoma, num planeta economicamente globalizado e numa Europa que sempre nos
considerou, ou um mero apêndice espanhol, ou uma qualquer região subtropical,
daquelas onde França, Inglaterra ou Alemanha sempre se habituaram a dizer o que
fazer.
Os erros pagam-se e será esse o
preço das vistas curtas, do facilitismo, e do deslumbramento com meia dúzia de
tostões, que sempre caracterizaram a mentalidade dos políticos.
Nunca esquecer que no século XV,
num contexto de “ressaca” de Aljubarrota, Portugal foi para o mar para não ser
engolido pela Espanha. Sê-lo-á politicamente e a seu tempo.
É precisamente além mar, e nos moldes
descritos, que Portugal sobreviverá para sempre!