Depois do que escrevi – e mantenho - aquando da tragédia de
Pedrogão, decidi que neste Verão, não dedicaria mais prosa à temática dos incêndios,
sob pena de me tornar repetitivo.
Mas quando vejo o país inteiro a arder – em sentido literal!
– torna-se numa necessidade voltar ao tema, mesmo que isso implique recalcar
coisas recentemente escritas.
Ao dizerem-nos, que incêndios constantes e recorrentes, deflagrados
a meio da noite e em várias frentes, são fruto “das altas temperaturas”, “do
Sol”, das “alterações climáticas” ou de um “raio”, estão, em bom português, a
gozar com a inteligência das pessoas, mesmo dos mais distraídos.
Nem é preciso referir o demasiado óbvio: fogo posto.
Não porque o cigarro ficou mal apagado, ou o foguete da festa
de aldeia foi lançado com descuido, nem sequer porque o churrasco feito na mata
incendiou a mesma.
Não é que as situações acima referidas não provoquem fogos –
é evidente que provocam! – mas nunca com as proporções e freqüência a que
assistimos, por estes dias.
Resta sabermos por quem e com que motivações o fogo é posto,
já que a investigação sobre Pedrogão permanece no segredo, tanto de Justiça,
como dos deuses.
Quais as motivações?
- No Portugal profundo, as obscuras correlações de forças,
em termos locais: os terrenos que se vendem e compram – e os seus preços – os
pinheiros que se abatem para a indústria da madeira, os eucaliptos que se
plantam para a celulose, as vingançazinhas pessoais, os interesses mesquinhos,
a política local, nomeadamente, em ano de Autárquicas;
- A especulação imobiliária com os terrenos ardidos, onde,
em muitos deles, o PDM proíbe a construção. Mas sabemos que, entre aquilo que a
lei proíbe, e aquilo que se faz, pode ir uma distância enorme, nomeadamente
quando os mecanismos de controlo do cumprimento da lei são, em muitos casos, ou
inexistentes ou promíscuos;
- A lei de reflorestação da Cristas, que liberalizou a
plantação de eucaliptos, dando um lucro enorme aos seus proprietários – e à
indústria da celulose – encorajou o incêndio dos pinhais, para sua posterior
substituição por eucaliptais;
Quais as soluções?
- A existência de uma regionalização do país, que substitua
as opacas CCDR’s – Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional – por um
poder com rosto, eleito por sufrágio universal e democrático, controlado por
todos nós; Uma das funções dessas Regiões Administrativas, seria controlar,
moderar e limitar as atividades locais que não cumprissem as leis; outra das
funções, seria o planeamento e gestão das florestas;
- A existência de um planeamento florestal e de uma
legislação que priorize a plantação das espécies autóctones, em detrimento de
um eucalipto estranho ao ecossistema, que só o destrói;
- Legislação no sentido da nacionalização de terrenos
abandonados e não limpos, visando a sua requalificação;
- E só no fim, e menos importante, o agravamento das penas,
não dos incendiários, mas dos mandantes, dos autores morais, que em última
análise, são os responsáveis pela destruição, pelo sofrimento e pela morte!
Espero não ter que voltar à temática dos incêndios. Significaria
que nada está a ser feito, num problema que se arrasta, há décadas!
Todos nos solidarizamos, todos condenamos, todos pensamos
que isto jamais irá acontecer. Mas nada fazemos...