Ao longo dos milénios, a História já nos ensinou que não
existem factos consumados e irreversíveis, tidos como adquiridos, certos ou
irrevogáveis, sendo exigida, não só uma mente aberta na análise dos problemas,
como também que todas as possibilidades sejam consideradas válidas.
É imperioso recordar que os regimes, as entidades políticas
e até as próprias civilizações nascem, crescem, envelhecem e morrem, sendo
precisamente nos momentos mais obscuros de crise económica que todo um conjunto
de factores mais facilmente tende a ser colocado em causa.
Tomando como princípio a progressiva degradação das relações
económicas e sociais, e atendendo ao evoluir da situação política nos próximos
anos, em que a queda nos extremos se tornou num facto – até no discurso cada
vez mais polarizado dos partidos ditos de centro! – podemos equacionar que
todos aqueles que lutam por uma verdadeira alternativa à actual política, ou
acabarão governando, ou acabarão num qualquer Campo de Concentração. Sem
meios-termos.
Atendendo ao desgaste dos partidos convenientemente chamados
“do arco governativo”, ao desinteresse e descrédito que os partidos e os
políticos geram no comum dos mortais, e tomando em conta que o oportunismo da
Direita a leva facilmente a uniões, coligações e casamentos por conveniência, a
hipótese da chegada ao poder de uma qualquer forma de Fascismo pseudo-salvador,
torna-se num perigo real.
Enquanto não houver vontade e capacidade para centrar o
debate político num pragmatismo de ruptura baseado nos valores da Esquerda, em
detrimento de discussões inúteis e fratricidas de doutrina livresca e dogmática
e/ou à volta de piropos estéreis, não só se contribui para o aprofundar do
radicalismo neoliberal, como também se alimenta o possível monstro Fascista,
sem que seja germinada uma alternativa unificadora e mobilizadora comum a todos
os que comungam do ideal de uma sociedade mais justa e mais humana.
É forçoso que todos se concentrem nos inimigos comuns, na sua
forma de neoliberalismo fascizante, deixando para trás querelas e divergências
que só prejudicam uma luta que é de todos.
Existem perigos e ameaças reais que não podem ser subestimadas
ou menosprezadas, sob pena de uma alegre queda num facto consumado e
irreversível que nos destruirá, tanto como indivíduos, mas também como
comunidade política.
Os tempos exigem total concentração nos objectivos
propostos, sem divisões que só irão fortalecer quem se quer fraco. Isto não
pode eliminar um necessário debate construtivo acerca do que deve ser feito,
mas sem querelas desnecessárias.
Só a unidade de todos os que lutam por um modelo alternativo
de política, de economia e de sociedade, poderá salvar o país do desastre que
se antevê e do qual ainda não se começam a vislumbrar as verdadeiras consequências,
pois a procissão ainda vai no adro.