segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Ressaca Eleitoral




No rescaldo da noite eleitoral, é possível concluir que nenhum dos chamados grandes partidos cumpriu os objetivos a que se propôs.

O PS foi para as eleições sem assumir que queria governar com maioria absoluta, apesar de todos termos percebido que era esse o objetivo principal, algo que não atingiu.

As recordações de Sócrates, das suas atividades pouco claras e da sua austeridade, contribuíram para o eleitorado desconfiar ainda não se ter reconciliado totalmente com o PS.

Tudo indica que governará ao ziguezague, usando este ou aquele parceiro para aprovar esta ou aquela matéria.

O PSD sofreu a pior derrota da sua história, o que o levará a reconfigurar o seu discurso e até a sua ideologia, podendo resvalar para um populismo de direita fascizante e salazarenta, algo que pega no Portugal profundo, onde esse mesmo PSD tem a maioria do seu potencial eleitorado.

O BE não beneficiou com a “geringonça”. Apesar de ter consolidado a sua posição como terceira força política, mal conseguiu manter o número de deputados que já tinha, tendo baixado o seu número de votos, com destaque para a perca de um deputado em Lisboa.

Já em 2015 o PCP foi incapaz de traduzir em votos a austeridade do Governo de Direita, um sinal que a direcção do partido teimou em ignorar, preferindo vir agora dizer que “a culpa foi da geringonça”, escondendo o facto de que à medida que a geração de Abril desaparece fisicamente pela lei da vida, o PCP não está a ser capaz de renovar, nem o discurso nem o eleitorado. Ultrapassado pela História, é de temer o pior, o que não é bom para a Democracia em Portugal.

O CDS sempre padeceu do mal de não ter bases, o que torna o seu eleitorado demasiado volátil. Sem Paulo Portas, sem projeto, sem ideias, sem coerência e atirando demagogia para o ar ao sabor do vento; está condenado a deixar de ter razão de ser e a ver o seu espaço político ocupado, quer por PSD, quer pela extrema-direita.

As alterações climáticas, as extinções em massa e a ecologia ocupam um lugar cada vez mais importante e determinante na vida das pessoas. Bem ou mal, o PAN tenta focar-se em problemas que afectarão cada vez mais o nosso quotidiano, tendo tido eco no eleitorado.

É preocupante a chegada do Fascismo ao Parlamento. Que a mesma seja passageira e irrelevante, sob pena de degradação da nossa Democracia. Que seja votado ao desprezo que merece, mas ao mesmo tempo, ser tido em atenção, a fim de ser combatido por todos os meios.

Para terminar, existem duas conclusões a tirar destas eleições:

- Diz-nos a experiência passada que os governos em “ziguezague” estão condenados a não durar os quatro anos, seja porque a oposição sente ter condições para tomar ela própria o poder; seja porque o próprio Governo provoca eleições, para tentar a maioria absoluta. Desta vez, não será diferente.

- É possível que estejamos a assistir a uma reconfiguração do sistema político-partidário português, com o BE a tornar-se a principal força de Esquerda; com o PAN a assumir o papel de partido ecologista, tal como já acontece por essa Europa fora; com o PS a ser o partido do centro; com o PSD a ser o partido da Direita salazarenta; e com CHEGA e/ou IL a se tornarem na voz da extrema-direita. PCP e CDS estão, a médio prazo, condenados à irrelevância política.