No rescaldo da noite eleitoral, é
possível concluir que nenhum dos chamados grandes partidos cumpriu os objetivos
a que se propôs.
O PS foi para as eleições sem
assumir que queria governar com maioria absoluta, apesar de todos termos
percebido que era esse o objetivo principal, algo que não atingiu.
As recordações de Sócrates, das
suas atividades pouco claras e da sua austeridade, contribuíram para o
eleitorado desconfiar ainda não se ter reconciliado totalmente com o PS.
Tudo indica que governará ao
ziguezague, usando este ou aquele parceiro para aprovar esta ou aquela matéria.
O PSD sofreu a pior derrota da
sua história, o que o levará a reconfigurar o seu discurso e até a sua
ideologia, podendo resvalar para um populismo de direita fascizante e
salazarenta, algo que pega no Portugal profundo, onde esse mesmo PSD tem a
maioria do seu potencial eleitorado.
O BE não beneficiou com a “geringonça”.
Apesar de ter consolidado a sua posição como terceira força política, mal
conseguiu manter o número de deputados que já tinha, tendo baixado o seu número
de votos, com destaque para a perca de um deputado em Lisboa.
Já em 2015 o PCP foi incapaz de
traduzir em votos a austeridade do Governo de Direita, um sinal que a direcção do
partido teimou em ignorar, preferindo vir agora dizer que “a culpa foi da
geringonça”, escondendo o facto de que à medida que a geração de Abril
desaparece fisicamente pela lei da vida, o PCP não está a ser capaz de renovar,
nem o discurso nem o eleitorado. Ultrapassado pela História, é de temer o pior,
o que não é bom para a Democracia em Portugal.
O CDS sempre padeceu do mal de
não ter bases, o que torna o seu eleitorado demasiado volátil. Sem Paulo
Portas, sem projeto, sem ideias, sem coerência e atirando demagogia para o ar
ao sabor do vento; está condenado a deixar de ter razão de ser e a ver o seu
espaço político ocupado, quer por PSD, quer pela extrema-direita.
As alterações climáticas, as
extinções em massa e a ecologia ocupam um lugar cada vez mais importante e
determinante na vida das pessoas. Bem ou mal, o PAN tenta focar-se em problemas
que afectarão cada vez mais o nosso quotidiano, tendo tido eco no eleitorado.
É preocupante a chegada do
Fascismo ao Parlamento. Que a mesma seja passageira e irrelevante, sob pena de
degradação da nossa Democracia. Que seja votado ao desprezo que merece, mas ao
mesmo tempo, ser tido em atenção, a fim de ser combatido por todos os meios.
Para terminar, existem duas
conclusões a tirar destas eleições:
- Diz-nos a experiência passada
que os governos em “ziguezague” estão condenados a não durar os quatro anos,
seja porque a oposição sente ter condições para tomar ela própria o poder; seja
porque o próprio Governo provoca eleições, para tentar a maioria absoluta.
Desta vez, não será diferente.
- É possível que estejamos a
assistir a uma reconfiguração do sistema político-partidário português, com o
BE a tornar-se a principal força de Esquerda; com o PAN a assumir o papel de
partido ecologista, tal como já acontece por essa Europa fora; com o PS a ser o
partido do centro; com o PSD a ser o partido da Direita salazarenta; e com
CHEGA e/ou IL a se tornarem na voz da extrema-direita. PCP e CDS estão, a médio
prazo, condenados à irrelevância política.