Não sou apologista da
teoria do “quanto pior, melhor”.
E o pior, teriam sido mais
quatro anos de mandato daquele que foi o pior Governo da História democrática
portuguesa, da responsabilidade de Passos Coelho e de Paulo Portas.
Imaginem como seria,
se esses dois ainda fossem Governo… com a continuação da austeridade criminosa,
é provável que tivessem provocado o colapso social do país, com os níveis de
pobreza, de morte por falta de assistência médica ou de criminalidade a
dispararem; e na sequência disso, uma grave recessão económica, ao invés do
crescimento anémico dos últimos anos.
Por isso mesmo, será sempre preferível uma “geringonça”, do
que a Direita neoliberal extremista.
Deste ponto de vista,
PS, BE e PCP cumpriram o seu dever perante o país e as pessoas, desalojando
Passos e Portas do Governo e mandando-os a ambos para bem longe.
Mas será que, após anos de austeridade brutal (2009-15), o
nível de exigência dos cidadãos e dos eleitores desceu tão baixo, ao ponto de
bastar a um Governo fingir não tomar novas medidas de austeridade e reverter minimamente
outras, para parecer ser de Esquerda?
Ou seria exigível serem desfeitos, de uma vez por
todas, os males cometidos entre 2009 (ainda com Sócrates) e 2015, algo que só
tem acontecido, muito timidamente e por vezes, somente de um ponto de vista
cosmético?
Atendendo aos resultados das Eleições de 2015, a
“geringonça” foi a solução possível, mas para a mesma ser chamada de Esquerda,
seria preciso ir muito mais além do estético ou do remendo, sendo forçoso ir até
ao estrutural, onde se teima nada fazer.
Uma reversão nas leis laborais, que o PS teima em não aceitar, seria
essencial, não só para repor um mínimo de justiça nas relações laborais, como
também para uma maior eqüidade na distribuição da riqueza gerada.
É que, como sabemos, quanto mais “flexíveis” forem as leis laborais,
maior a precariedade laboral, pois facilitam-se os despedimentos, e mais baixos
serão os salários, fazendo com que os benefícios do crescimento económico só
cheguen aos patrões e não aos trabalhadores – que serão sempre os primeiros a
sofrer as conseqüências de uma recessão.
Outras áreas que continuam a sofrer com o contínuo desinvestimento são a
educação, a saúde – onde o PS teima com a continuidade das PPP’s – e os
transportes, onde o presente envenenado dos passes sociais mais baratos não se
traduziu numa maior oferta de transportes públicos, antes pelo contrário.
Já para não falar nas Parcerias Público Privadas nas auto-estradas e nas
pontes, muitas delas herdadas do Governo de Sócrates, que causam prejuízos de
milhares de milhões ao Estado, fruto de contratos lesivos e danosos para o
erário público.
Sabemos das apertadas regras orçamentais impostas pelo Reich de Bruxelas
e de Berlim, que limitam a capacidade de ação de qualquer Governo em Lisboa,
sendo também forçoso lutar contra as mesmas, não só nas instituições próprias,
como também nas ruas, contra o domínio da Europa por meia-dúzia de
multinacionais e de bancos alemães.
Em jeito de balanço, a solução governativa denominada “geringonça” foi
positiva, pecando por não ter ido suficientemente longe nas medidas que tomou,
não só de reversão dos crimes cometidos pelos governos entre 2009 e 2015, como
também no atingir de novas conquistas sociais e novos investimentos em áreas
como a saúde, a educação, os transportes e a própria segurança social.
Não será com uma maioria absoluta do PS que esses objetivos serão
atingidos, antes pelo contrário, poderão ser revertidos, assim que o
pseudo-socialismo do Largo do Rato tenha condições políticas para tal.
Veremos qual será o veredito dos cidadãos, conscientes de que uma
maioria absoluta do PS fará com que o mesmo deixe de precisar de BE e/ou de PCP
para ser Governo, condição essencial para que a lógica da austeridade louca não
tivesse continuado depois de 2015.